Aulas
de Campo:
Relatos
de Experiências, vivenciados nas aulas da Disciplina de Ciências das Religiões
e Ensino Religioso do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões -
PPGCR
Universidade
Federal da Paraíba - UFPB.
Dias
17; 18; 19 e 20 de maio de 2019
Congresso
dos Povos XUKURUS
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Imagem - Profª. Jenise Rangel. Cidade de Pesqueira- PE , Local onde ocorreu o evento do povo XUKURU -maio de 2019 |

Uma das lindas indígenas
Nesse momento não foram apenas quatro horas aulas, mas, sim 32 horas aulas que aconteceram na cidade de
Pesqueira em Pernambuco, onde formos direto para a “Aldeia Xukuru” um lugar
muito bonito e aprazível no alto de uma serra com várias ladeiras imensas, numa
estrada de barro ou de massapê lisa. Foi um encontro muito bem organizado e
estruturado para mais ou menos duas mil (2.000) pessoas.
Chegando lá nos deparamos
com uma multidão de pessoas de várias regiões do Brasil, entre estes, além dos
indígenas havia ainda, pesquisadores, jornalistas e repórteres estudantes,
professores e lideranças partidária / sindicalista, religiosas e mais a
população de Pesqueira prestigiando o evento do “Povo Forte Xukuru”.



No
1° dia: 17/ 05 houve
uma reflexiva abertura e boas vindas aos participantes e a fala de algumas
lideranças, prometendo ser um ato público indígena, mas, muito organizado com
toda infra-estrutura para receber os convidados. Aconteceram num mesmo espaço,
um lindo barracão de palha, uma espécie de auditório indígena que abrigou a
todos que estavam presentes. Foram momentos ímpares de aprendizagem, pois
tivemos aula com essas pessoas que pertencem à rica cultura indígena. Basta
falar que fica difícil de qualificar suas lutas e perseveranças em seus
objetivos. Percebi que estes são exemplos de vida para nós professores de
Ensino Religioso. Pois enquanto nós, lutadores professores desistimos no meio
do caminho... Esse povo corre e, vai atrás daquilo que lhes tiraram um dia, que
são suas terras e seu povo.
No
2° dia: 18/05 antes
de iniciar as falas das lideranças... Eles promoveram uma ritualística
sincrética através de uma forte espiritualidade e religiosidade. Um momento de rituais de orações invocando Deus, Jesus, Maria e o Espírito Santo.
Rezando o Credo, Pai Nosso, Ave Maria com Cânticos exaltando tudo em nome de
Deus (Olorum), um sincretismo religioso de Pajelança, excluindo todo o mal,
saudando nesse momento as divindades indígenas através dos seus “Encantados” e
os “Seres de Luz”. Encerrando esse momento sublime com cânticos, os seus louvores
a Deus segundo eles. Em alguns momentos, alguém falava do Deus TUPÃ com muita
intensidade e sabedoria.

Esse dia foi muito
intenso, pois tivemos diversas explanações, sobretudo que lhes estavam incomodando,
principalmente os assassinatos indígenas de seus entes queridos em que deixavam
transparecer suas indignações. Entre essas pessoas, estavam as lideranças
indígenas, sindicalistas, professores pesquisadores e estudantes indígenas. No
meio destes profissionais situavam-se também os outros indígenas que
demonstraram em suas falas, as suas reivindicações, metas e objetivos. E assim
foi esse dia, porém com muito dinamismo.



No
3° dia: 19/05, esse dia ficará marcado em nossa memória,
pois foi o dia que amanheceu chovendo, nos preparamos para irmos pela manhã. Entretanto, nos
disseram que carro nenhum estava subindo ou descendo por conta da chuva a
ladeira de massapê deslizava muito. Por isso ficamos tristes... Vindas de tão
distante e perdermos as ricas palestras! Pois éramos 5 professor/es pesquisador/es
(Jenise, Joelma, Surama e Eu Maria José, além do pesquisador nato, o Mestre
Falcão) e não queríamos perder nada
sobre esses depoimentos e foi quando este último foi falar com o motorista para
nos conduzir mais tarde. E assim aconteceu. Quando chegou a certa altura, havia
uma fila imensa de carros e ônibus que não conseguiam subir, foi quando as
meninas decidiram descer e subir a pé uma segurando na outra.



Entretanto, eu não
consegui descer do carro, pois tudo deslizava, e com isso não arrisquei, tendo
em vista as minhas limitações. Contudo foi um momento muito rico para nós, com
todas as dificuldades, seguimos avante, para não perdermos as famosas palestras
tão significativa para nós. O que mais me chamou a atenção é de saber o quanto
esse povo é organizado! Como eu gostaria que nós educadores nos comportássemos assim,
com essa garra e energia! Enquanto uns lutam até o fim, alguns se acomodam e
outros desistem no caminho, por conta da falta de atenção dos gestores públicos.

No
quarto dia: 20 /05 encerramento com um ato inter-religioso Cristão X Indígena, além de ato político para traçar as diretrizes de
reivindicações para o “Povo Xukuru”. O que mais me chamou a atenção foi à
organização, o compartilhamento das refeições, o respeito por todas as
lideranças o poder das mulheres na organização, no falar nas determinações que
foram pontuadas, por elas principalmente a sua participação ativamente nesse
evento.
As mulheres indígenas estão ativamente
engajadas nessas lutas com a finalidade de resgatarem tudo aquilo ou parte
daquilo que lhes foi tirado um dia. Além de serem fortalezas são determinadas e
engajadas nessas lutas indígenas. Tudo isso é muito fascinante... Observamos o
exemplo da mestranda Sanderline! A nossa grande “Pajé Potiguara”. Eu fiquei
curiosa quando soube que ela era Pajé, pois achava que isso nessa cultura, seria
uma função ou cargo somente do homem indígena...
Essa experiência que
vivenciei nesses dias desse evento deu-me a oportunidade de (re)viver um pouco
mais dessa nossa cultura indígena. Temos muito que aprender, pois são pessoas que
estão empenhadas na luta, desde os tempos coloniais, além dos seus afazeres
domésticos estão lado a lado tentando e buscando resgatar as suas heranças (que
é a Mãe Terra) deixadas para eles e elas pelo GRANDE CHEFE O DEUS TUPÃ.



Esse último dia foi
marcado pela “Marcha e o grito de guerra deles misturados com os delas
(indígenas)" que descendo a ladeira da serra não pararam, cantando palavras de
ordem ritmadas sem se deixar intimidar, por suas fragilidades por serem
mulheres, misturados com os homens, (indígenas) lindo de ver essa manifestação
indígena, tão digna de nossos ancestrais.



Para que serviu essa aula?
Nesse
momento dessas discussões percebemos o quanto ele são organizados e sábios,
pois além de ser gratificante em saber o quanto essa luta é compartilhada e
pacífica entre eles. Por isso que são fortes! Aprendemos muito com as
palestras, além de seus discursos colocando em votação as suas reivindicações.
Avaliação
e auto-avaliação: Foi de muita sensibilidade em presenciarmos
tanta organização que os deixaram transparecer. Foi um evento edificante onde adquirimos muitas lições de vida.
Aprendi muito com a cultura indígena revendo os meus valores e pensando na luta
dos professores que deveria ser edificada de acordo com esses modelos de luta.
Portanto, auto-avalio-me, também me colocando no lugar deles e delas,
sentindo-me mais uma nessa luta que não é somente deles e delas, mas, nossa
também.

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