sábado, 28 de julho de 2012

RELATÓRIO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE ENSINO RELIGIOSO

Iniciamos a formação continuada de Ensino Religioso no mês de fevereiro, encerrando as atividades em dezembro. Foram dois encontros mensais, sendo o último encontro com a confraternização.
             Tendo em vista a rotatividade que existe em contratar esses professores, por isso é preciso um acompanhamento sistematizado porque todos precisam dessa formação, uma vez que ainda não existem professores formados academicamente nessa área de conhecimento. E mesmo porque precisamos sempre estudar para estarmos atualizados.
            Este componente curricular oferece para as escolas públicas e, portanto para docentes e discentes, o devido amparo legal, bem como a sua inclusão na proposta pedagógica da escola, isto é, PPP, Planos de estudo bem como a sua prática em sala de aula de acordo com os PCNER[1] elaborados e editados pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER)[2].
            De acordo com o Projeto de Formação Continuada: Diversidade, Educação, Legislação e Ensino Religioso, com a finalidade de sensibilizar e acompanhar os trabalhos realizados nas escolas, por seus professores de ER. A primeira parte, os dois primeiros meses foram dedicados a elaboração do Plano de Curso, em que muitos tiveram dificuldades de fazer. Uma das propostas feita pelos professores seria a elaboração de uma proposta de Plano de Curso em Ensino Religioso para a Rede Municipal de Ensino- JP/PB, para que fosse organizado e sistematizado em toda rede, e a própria escola tomasse conhecimento à respeito desse componente curricular, pois segundo relato: “A escola acha que é para o professor ensinar a rezar; ou estudar a Bíblia e ou fazer o aluno mudar de comportamento...”
            Trabalhamos ainda sobre o preenchimento dos diários de classe, uma vez que muitos são novatos e sentem dificuldades. Na segunda parte trabalhamos sobre a diversidade e o Ensino Religioso, tais como: O que é? Para que? Por quê? E como trabalhar com o Ensino Religioso. O que justifica esse componente curricular na escola? Qual a sua relação com a Diversidade e a Educação? Acrescentando acima sobre o perfil deste profissional. Neste sub-ítem trabalhamos sobre o ser humano, as  culturas, a diversidade religiosa em sala de aula e a alteridade, o respeito e o preconceito.
            Ainda incluindo nesse item Os quatro Pilares da Educação, diálogo em sala de aula e interreligioso, acrescentando um pouco da história do ER e mais o Ensino religioso identidade pedagógica; O ensino religioso dialogando com a diversidade; Novos paradigmas, década dos anos 90; Os Cinco eixos temáticos do ensino religioso; O ensino religioso hoje; Objeto de estudo do ensino religioso.
            Na parte terceira fizemos um estudo a respeito do fenômeno religioso (objeto de estudo do ER). A importância do fenômeno religioso; Funções elementares da Religião; As tradições religiosas; O fenômeno religioso. Tendo com subitem: A evolução do Fenômeno Religioso. Definição de alguns termos: Espírito; alma; espiritualismo; Espiritual; espiritualidade; espiritualização; Mística; fé; crença; crendice; superstição.
             A definição de alguns termos. A Tradição Religiosa e fenômeno religioso a função da tradição religiosa. Abordamos ainda sobre religião e sua definição. O sagrado de cada um.     
            O fenômeno religioso e as respostas para a vida além-morte. As perguntas existenciais: De onde vim? Por que vivo; Para onde vou?    
            Os Limites e Desafios do Ensino Religioso Escolar. Concepções e práticas acerca do fenômeno liderança. O que significa ser líder?
            Modelos pedagógicos e epistemológicos do ensino religioso. Implicações práticas quanto ao ser professor e pesquisador na área das ciências das religiões. O que significa ser líder. A busca pela construção do ser-líder e do ser-professor. Como integrar liderança e espiritualidade. Liderança Sociocomunitária e Sustentável.
            Nessa terceira parte tivemos a parceria do Professor Marinilson Barbosa da Silva – Ciências das Religiões (UFPB), que  enriqueceu e dinamizou a nossa formação.
             Foi um trabalho reflexivo, e dinâmico. Quanto à metodologia aplicada, foram utilizados: Dinâmicas diversas, estudos e reflexão de textos, trabalhos em grupo e individual, oficinas, relatos de experiências, pesquisas com trabalhos científicos, apresentados no VI CONERE[3], com a participação de 10 professores. E mais avaliação e autoavaliação.
            Essa formação teve a participação de 90% dos professores. Muitos tiveram dificuldades de participar cem por cento porque segundo eles tinham aula na escola, ou planejamento e ou reuniões e eram obrigados a participarem.
            Nessa formação sempre é possível novas descobertas que nos transporta à novos horizontes do saber, uma verdadeira partilha de conhecimento e aprendizagem.
            Dia      15/12/2011 nos reunimos para avaliarmos a formação, em seguida a entrega dos certificados e ao mesmo tempo nos confraternizamos, tendo como sugestão, o próximo encontro para a 2ª quinzena de fevereiro de 2012 com a finalidade de sistematizar o Plano de Curso.
                                                                                                                        

[1] - Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso.
[2] - FONAPER: é uma associação civil de direito privado, de âmbito nacional, sem vínculo político-partidário, confessional e sindical, sem fins econômicos, que congrega, conforme seu estatuto, pessoas jurídicas e pessoas naturais identificadas com o Ensino Religioso, sem discriminação de qualquer natureza. Fundado em 26 de setembro 1995, em Florianópolis/SC, vem atuando na perspectiva de acompanhar, organizar e subsidiar o esforço de professores, pesquisadores, sistemas de ensino e associações na efetivação do Ensino Religioso como componente curricular. O FONAPER é um espaço de discussão e ponto aglutinador de idéias, propostas e ideais na construção de propostas concretas para a operacionalização do Ensino Religioso na escola.

[3] -VI CONERE - Congresso Nacional de Ensino Religioso, 05 a 08 de outubro de 2011 em Canoas – RS. Acontece de dois em dois anos e cada vez é em um Estado do Brasil.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO E O ENSINO RELIGIOSO

Maria José T. Holmes

A visão de educação, segundo Jacques Delors, apresentada para a UNESCO, o Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, propõe, entre outras coisas, a todas as Nações que a Educação em primeiro lugar deve fundamentar-se a partir dos quatro pilares, ou seja:
  • Aprender a conhecer;
  • Aprender a fazer;
  • Aprender a viver juntos, conviver.
  • Aprender a ser.
Quando se destaca o “aprender a conhecer”, refere ao desenvolvimento do conhecimento. Nesse pilar o educador precisa despertar no educando a vontade de aprender, de conhecer, não só pela simples busca, mas que esse, sinta prazer de ensinar e aprender junto com o educando, facilitando essa aprendizagem com metodologias facilitadoras a que venha despertar o pensamento crítico, em que esse possa construir sua própria opinião.
O “aprender a fazer” está associado ao “aprender a conhecer”, isto é a associação da teoria à prática. É importante que tanto docentes, quanto discentes entendam que o fundamento de aprender a fazer está também no ato de transmitir esse aprendizado, pois isso não pode ser só aprendido, mas transmitido e partilhado.
O “aprender a viver juntos, (conviver)”, esse é um dos pilares considerado como um desafio para educadores e educandos. É de fundamental importância que o educador tenha o cuidado de trabalhar essas questões em sala de aula vivenciando os valores éticos, com respeito e atitudes de partilha e fraternidade e muito diálogo. É necessário conhecer primeiramente o Eu, para conhecer o outro, que Eu me ame primeiro para amar o outro e que Eu me respeite, para respeitar o outro. Dessa forma estamos eliminando o preconceito em sala de aula e logicamente trabalhando para a construção da cidadania.
O “aprender a ser”, a partir do momento que o educando aprender os três primeiros pilares, automaticamente aprenderá esse último, entretanto como a educação entende a pessoa como um indivíduo, como um ser completo, ou seja: de corpo, mente e espírito. Portanto, nesse pilar completará a sua aprendizagem como um ser individual que diante dos ensinamentos e descobertas dos valores e atitudes, esse ser individual se transforme num cidadão capaz de estabelecer uma relação interpessoal na sociedade que está inserido, que tenha uma visão de mundo com um olhar de respeito às diferenças.
Esses pilares nos permitem compreender o mundo, de uma forma mais humana, responsável e solidária, enfim dá mais sentido a vida. Isso se encaixa muito bem no Ensino Religioso. Em função da organização, dessa nova área do conhecimento, e do sentido epistemológico que ela assume, assim como da necessidade do estabelecimento do processo metodológico correspondente a esse Componente Curricular nos Estabelecimentos de Ensino.

sábado, 14 de julho de 2012

REFLETINDO A CONSTRUÇÃO DA ÁRVORE DOS EIXOS TEMÁTICOS DO ER


                                   RESULTADO DA OFICINA DOS EIXOS TEMÁTICOS DO ER                                                                             
(Autores: Professores de Ensino Religioso)


Estes são os pequenos grãos de mostarda semeados nos Ensino Religioso...

RAIZ: "Nos encontramos em meio a um grande desafio, uma vez que o etnocentrismo religioso suplanta os valores religiosos de outras culturas. É necessário um preparo sócio-antropológico por parte dos docentes para tratar em sala de aula essas questões, de maneira que não ignore os valores e as particularidades de cada tradição cultural, como também uma consciência pautada pela ética religiosa capaz de nos levar a enxergar cada cultura como igual". “O preconceito religioso existe dentro das escolas e se apresenta fortemente nas aulas do ER visto ser um espaço de construção e reflexão do conhecimento. É comum a imposição por parte dos adeptos de várias tradições religiosas, todavia cada professor de ER deve nesse momento, mediar o conhecimento da diversidade religiosa e cultural levando o aluno a perceber a necessidade de compreensão e diálogo interreligioso para convivência pacífica entre os alunos e entre as pessoas”. 
CAULE:“A tradição oral tem sua grande importância por ter o compromisso em passar de geração em geração todo o seu conhecimento cultural religioso. Portanto seus rituais são vivenciados e rememorados constantemente. Na tradição escrita todos os conhecimentos religiosos são registrados para contribuir para a reflexão e prática de sua religiosidade. Embora que dependendo das tradições feitas, podem correr o risco de interpretações do texto sagrado, assim como a tradição oral depende da influência de outras tradições religiosas podem trazer outros elementos agregadores para seus rituais. Ambas as tradições possui importância fundamental para a compreensão da prática, conhecimento, experiência, visão de mundo, de fé e religiosidade, de conhecimento cultural religioso e o fenômeno religioso presente em diversas culturas religiosas”.  “A diferença de um texto sagrado oral e de um texto sagrado escrito é pelo fato de que o texto oral passa o conhecimento cultural e religioso envolvendo os mitos, lendas, rituais a história de pais para filhos de geração em geração (ancestralidade). E o texto escrito é a forma fundamentada da crença religiosa onde esses registros sagrados tornam-se leis e estatutos para serem cumpridos. Todos os textos sagrados (orais e escritos) são relevantes, cada um com sua importância sagrada. “Ambos representam as cores do arco Iris, são lindos exuberantes, participantes e fundamentais na natureza”. Para o conhecimento dessas tradições por outros segmentos religiosos ou estudiosos na área a tradição escrita torna-se mais fácil o entendimento porque a palavra escrita comprova, fundamentaliza e consegue ultrapassar o tempo.”  
FOLHA: VIDA E MORTE-  “O mundo transcendente do ser humano, o que há além da morte, tanto as tradições religiosas orais e escritas interpretam de várias formas o mundo além morte. Na tradição cristã se ensina a ideia de um céu como premiação por uma vida obediente a Deus. E uma ideia de inferno como punição por desobediência. Na tradição budista existe a ideia de vidas sucessivas assim como no espiritismo (Reencarnação) como forma de evolução espiritual. Ancestralidade para outras culturas e o nada, porque existem aqueles que acreditam que após a morte tudo se acaba. Na condição de professor acreditamos que devemos transmitir informações sobre essa temática de forma que contemple a visão das várias crenças, através do debate, diálogo, vídeos, pesquisas entre outros".
FLORES:A Tradição, e o conhecimento, a criatividade, e a interatividade para vencer preconceitos.   "Os  ritos são essenciais nas tradições religiosas. Tudo começa e termina com um ritual no percurso das celebrações. É uma forma de perpetuar o conhecimento, transmitir a comunicação entre as tradições, responder perguntas, interagir e celebrar a história e a memória. "A cultura religiosa por si só traz consigo preconceitos e obstáculos. E cabe a nós educadores utilizar da criatividade na metodologia para desmistificar essas barreiras do preconceito. É possível sim o diálogo! Se as pessoas tomarem consciência da importância do respeito e do diálogo religioso, essas barreiras do preconceito serão amenizadas".
FRUTOS: Pensar uma ética educacional para trabalhar as culturas religiosas é "praticar o não proselitismo em sala de aula, saber respeitar as escolhas de cada um, demonstrando para os alunos o quanto é importante respeitar as religiões dos colegas". "O respeito a tudo e a todos que fazem parte desse mundo é fundamental . A diversidade cultural religiosa, diferença de raças, gênero limitações e deficiências, nos faz repensar que poderemos trabalhar em nossas aulas através da conscientização, da informação, do não preconceito junto às demais culturas diferentes das suas. Princípios para uma ética educacional para o Ensino Religioso:  
  •  O não proselitismo; 
  •  O diálogo interreligioso; 
  • Respeitar a tolerância e a laicidade do nosso País; 
  • Entender  o direito que todas as culturas religiosas tem, 
  • Respeitar as pessoas que dizem não professar nenhuma crença religiosa; 
  • Respeitar a individualidade de cada um; 
  • Cumprir o que preconiza o Artigo 33 da LDB;
  • Partcipar da formação continuada; e do planejamento da escola;
  • Seguir  os preceitos das diretrizes que regem o Ensino religioso;
  • Ter compromisso e responsabilidade não só com as escolas, mas com os alunos e toda comunidade escolar. 
  • Com bases nesses princípios as pessoas poderão ter um bom caráter; humildade, caridade e virtudes; afeto, amor, respeito e fé; prudência tolerância e atitudes responsáveis. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O FONAPER NA DIVULGAÇÃO DO XII SEFOPER


 

Prezado/a educador/a:

O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso/FONAPER organiza, neste ano, o XII Seminário Nacional de Formação de Professores para o Ensino Religioso/SEFOPER, cujo tema é Ensino Religioso - área de conhecimento da educação básica: interfaces com a proposta pedagógica da escola.

O XII SEFOPER será realizado nas dependências da Faculdade Salesiana Dom Bosco, situada na Av. Epaminondas, 57, Centro, Manaus/AM, nos dias 13 a 15 de setembro de 2012.

O evento receberá inscrições de trabalhos de acadêmicos, pesquisadores e docentes de educação básica em duas categorias:

a) Espaços pedagógicos: relato de práticas pedagógicas que abordem conteúdos curriculares do Ensino Religioso, com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER);

b) Comunicação de trabalho: artigos científicos resultados de pesquisas ou discussões teóricas sobre um dos Eixos Temáticos do evento;



Eixo temático I
Organização Curricular da Educação Básica:

Eixo temático II
Interculturalidade, Currículo e Cotidiano Escolar -

Eixo temático III
Culturas, Religiões e Educação -

Eixo temático IV
Diversidade Religiosa e Educação em Direitos Humanos

Eixo temático V
Ensino Religioso e a Proposta Pedagógica da Escola

Eixo temático VI
Ensino Religioso e Formação Docente

Eixo temático VII
Fundamentos e Metodologias do Ensino Religioso.


Maiores informações acesse:
http://www.fonaper.com.br/xiisefoper/



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sábado, 7 de julho de 2012

Religiões mundiais e Ethos mundial


Conferência proferida por Hans Küng, no dia 22-10-2007, na Unisinos. 
Por Cleusa Andreatta doutora em teologia, professora da Unisinos e coordenadora do programa Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos.

 

Introdução: Religião e Ethos

É possível ser moral, mesmo sem fé? Sim, é possível. Também ateus, agnósticos, céticos podem ter um ethos que, no entanto, não se fundamenta numa fé em Deus, porém numa confiança básica na realidade. É algo como uma moral fundamental.
É possível ser moral, mesmo sem fé? Sim, é possível. Também ateus, agnósticos, céticos podem ter um ethos que, no entanto, não se fundamenta numa fé em Deus, porém numa confiança básica na realidade. É algo como uma moral fundamental.
Então, por que ter ainda uma religião? Porque só a religião oferece resposta convincente sobre o definitivo de onde e para onde de minha existência; responde ao porquê e o para quê da minha responsabilidade; fornece uma comunidade espiritual, criando um ambiente de confiança, fé, certeza, força pessoal, refúgio e esperança; responde à saudade do “totalmente Outro”, fundamentando um protesto e resistência contra situações injustas.
Uma religião autêntica confere ampla liberdade, porque se relaciona com o uno Absoluto, com Deus, e distingue-se essencialmente de toda pseudo-religião que absolutiza algo relativo, como foi anteriormente a “deusa razão” atéia ou também o “deus progresso” com todos os seus “deuses subalternos” no panteão da modernidade: ciência, tecnologia e indústria. Todos eles são amplamente desmitizados e des-ideologizados na pós-modernidade e não deveriam ser substituídos por um novo ídolo, como o “mercado mundial”. Uma religião autêntica tem na pós-modernidade uma nova .
A partir da religião, com base nas maiores figuras da humanidade, pode tornar-se concretamente nítido o que significa uma conduta ética num caso bem prático. A parábola do bom samaritano diz mais do que uma sentença doutrinal sobre a conduta humana. E a figura de Jesus Cristo diz infinitamente mais do que qualquer sistema ético.
São estes hoje os três grandes termos programáticos de uma espiritualidade cristã: paz mundial, religiões universais, ethos mundial.

1. Sobre a questão da paz mundial
O mundo atual: atualmente, as Nações Unidas estão sobrecarregadas com suas missões de conservação da paz, pois contam com uns 200 membros (comparadas com 51 no ano de 1945) e este número tende a crescer devido à aspiração de sempre menores unidades étnicas e religiosas quererem conquistar o status de um “Estado soberano”. As unidades se tornam cada vez menores, a perspectiva cada vez mais estreita, a pressão por delimitação sempre mais fanática. Os movimentos migratórios de amplitude mundial e a inimizada para com estranhos nos confrontam com novos problemas, exigem mudarmos nossa mentalidade e chegarmos a melhores regras de convivência neste único mundo e nesta única humanidade. Mas como?
Pode parecer temerário falar de paz mundial, religião mundial e ethos mundial frente às guerras e tensões religiosas na história recente em vários países. Mas a exigência de uma paz mundial através das religiões mundiais provém de amargas experiências do passado e do presente, nas quais as religiões, com freqüência, desempenharam e desempenham um papel fatal.
Não se trata de uma religião unitária e sim de uma paz entre as religiões em que, de fato, todos os líderes das grandes religiões falem e ajam em favor da paz entre as confissões, as religiões e as nações! Trata-se de “um novo paradigma de relações globais”, como esbocei em livros como “Projeto de Ética Mundial” ou “Uma ética global para a política e a economia mundiais”.
O novo paradigma afirma basicamente uma política de compreensão, aproximação e reconciliação regional. Isso exige cooperação recíproca, compromisso e integração. Esta nova constelação política global pressupõe uma mudança de mentalidade que ultrapassa a política do dia-a-dia. Faz-se necessário um novo modo de pensar; a diversidade nacional, étnica e religiosa, em vez ameaça, pode ser entendida como possível enriquecimento; o novo paradigma não necessita de nenhum inimigo e sim de parceiros. Isto porque se comprovou que o bem-estar nacional é incentivado duradouramente unicamente pela paz e pela cooperação e convivência. E porque os diversos interesses são satisfeitos na reciprocidade e convivência, é possível uma política que é um jogo de somas positivas, no qual todos ganham.
Neste novo paradigma, a política permanece como a “arte do possível”, que pressupõe um consenso social referente a determinados valores, direitos e deveres básicos. Além de uma nova política e uma nova diplomacia, isto exige conversão dos corações, real aceitação recíproca, um novo Ethos.
Para nós, cristãos, a pergunta decisiva é: O que o próprio Jesus exigiria, se ele voltasse? Eu creio que ele exigiria de nós uma convivência solidária com as outras religiões, que renuncia às guerras religiosas, perseguição e inquisição, substitui o egoísmo coletivo pela solidariedade do amor, praticando tolerância religiosa, pratica o perdão e ousa um recomeço.

2. Sobre a questão das religiões mundiais
Durante séculos as religiões viviam num “isolamento” recíproco, mas a situação global se modificou decisivamente. Existe hoje um entrelaçamento mundial político, econômico e financeiro tão forte, que economistas falam de uma sociedade global e sociólogos de uma civilização global: uma sociedade e civilização globais como campo de interação interconectado, no qual estamos todos direta ou indiretamente envolvidos.
No entanto, esta emergente sociedade global e civilização tecnológica mundial de nenhum modo expressa também uma cultura global unitária ou mesmo uma religião global. A sociedade mundial e a civilização global incluem uma multiplicidade de culturas e uma multiplicidade de religiões, confissões e denominações, de seitas, grupos e movimentos religiosos. Esta multiplicidade é confusa. E, contudo,  há elementos comuns nas religiões. Todas as religiões são mensagens salvíficas que respondem de maneira semelhante a questões básicas do ser humano sobre amor e sofrimento, culpa e redenção, vida e morte. E todas também oferecem caminhos de salvação semelhantes: caminhos de saída da necessidade, do sofrimento e da culpa da existência; orientação para uma ação significativa e conscientemente responsável nesta.
Cada religião, como fenômeno humano, é ambivalente. Entre outras coisas, a religião pode motivar, incentivar e prolongar guerras, mas ela também pode impedir e encurtar guerras. É preciso considerar hoje a dimensão social, moral e religiosa das crises político-mundiais.
As religiões do mundo estão profundamente conflitadas entre si. Entretanto, em vez de estarem em confronto e luta entre si, sua primeira tarefa, deveria ser a criação recíproca da paz, clareando mal-entendidos, superando lembranças traumáticas, elaborando os conflitos de culpa, desfazendo o ódio concentrando-se nos aspectos comuns.
Todavia, será que os adeptos das diversas religiões sabem algo a respeito do que – apesar de suas grandes diferenças “dogmáticas” – é comum precisamente no Ethos? Absolutamente não. Por isso, a necessidade de um Ethos mundial.

3. Sobre a necessidade de um Ethos mundial
Um primeiro aspecto: o Projeto de Ética Global exige precisamente a aliança de crentes e não-crentes por um novo ethos básico comum.
Um segundo aspecto: em vista de um mínimo de ethos, de valores comuns, de parâmetros vinculantes e convicções pessoais básicas, as religiões têm certamente uma função e responsabilidade específica. Elas podem, onde querem, fazer valer máximas fundamentais de humanidade elementar. Sobretudo, a regra da humanidade: “Cada pessoa deve ser tratada humanamente!” E a seguir a Regra áurea: “O que não queres que se faça a ti, também não o inflijas a nenhum outro”.
Isto deve ser feito conscientemente: pois todas as grandes religiões exigem determinados “padrões inegociáveis”: normas éticas básicas e máximas de orientação da ação que são fundadas a partir de algo incondicionado, absoluto; por isso, elas também devem valer incondicionadamente para centenas de milhões de pessoas – mesmo que não sejam cumpridas no caso concreto.
Aqui Declaração sobre o Ethos mundial, que o Parlamento das Religiões cósmicas publicou aos quatro de setembro de 1993, em Chicago, ganha concretude. Todas as religiões podem e devem empenhar-se ativamente e aceitar obrigações pessoais. Trata-se aí do seguinte:
- A obrigação por uma cultura da não-violência e do respeito por toda vida: “Não matar – também não torturar, maltratar, ferir – ou, positivamente: “Respeite a vida!”
- A obrigação de uma cultura da solidariedade e uma justa ordem econômica: “Não furtar –também não pilhar, chantagear, corromper”, ou positivamente: “Age honesta e lealmente!”
- A obrigação por uma cultura da tolerância e uma vida em autenticidade: “Não mentir – também não enganar, falsificar, manipular”, ou positivamente: Fala e age autenticamente!”
- Enfim, a obrigação por uma cultura de iguais direitos e a parceria do homem e da mulher: “Não fazer mau uso da sexualidade – também não abusar, diminuir, aviltar o parceiro” – ou positivamente: “Respeitai-vos e amai-vos mutuamente!”
Diante de todas estas reflexões e atividades por um ethos mundial, devemos nos perguntar, como cristãos, qual é o nosso ethos cristão específico, o qual representa para os cristãos singular aprofundamento, concretização e radicalização do Ethos mundial: Jesus Cristo como “nossa Luz”: o que nós, iluminados por esta luz, devemos dizer sobre o sentido da vida e da morte, sobre o suportar da dor e o perdão da culpa, sobre uma desprendida doação e a necessidade da renúncia, sobre uma abrangente compaixão e uma duradoura alegria. Tal ethos cristão pode não só ser unificado com um Ethos mundial, porém poderá aprofundar, especificar e concretizar o Ethos mundial para os cristãos.

Conclusão
Todas as experiências históricas demonstram que um Ethos mundial poderá impor-se. A Terra não pode ser modificada sem que seja alcançada a médio prazo uma transformação da consciência e uma re-orientação do pensamento e da ação de cada um, como também do público. E para tal transformação precisamente as religiões são responsáveis de modo todo particular.
A nova ordem mundial só será uma ordem melhor, quando ela se tornar um mundo social e plural, compartilhado e promotor da paz, amigo da natureza e ecumênico. Por isso, muitas pessoas se empenham já agora, com base em suas convicções religiosas ou humanas, por um Ethos mundial comum e convocam todas as pessoas de boa vontade a contribuírem para uma transformação da consciência em questões éticas.
Tudo o que eu disse até agora, eu posso resumi-lo conclusivamente em quatro breves sentenças:
·         Nenhuma paz entre as nações sem paz entre as religiões.
·         Nenhuma paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões.
·         Nenhum diálogo entre as religiões sem padrões éticos globais.
·         Nenhuma sobrevida do nosso Globo na paz e justiça sem um novo paradigma de relações internacionais na base de padrões éticos globais. 

domingo, 1 de julho de 2012

O ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


A educação de forma participativa envolve o ser humano num mundo de conhecimento, possibilitando aprender com as experiências de vida diária, em que permitem as pessoas a se questionarem, encontrarem respostas e ao mesmo tempo aprenderem com as situações concretas do seu cotidiano.  

Os estudantes da Educação de jovens e Adultos, ao se entrosarem com o estudo sobre o Ensino Religioso vão aprofundar esses conhecimentos no seu dia a dia no espaço escolar, a partir dessas vivências é que vão compreender todo o processo de alteridade.

De acordo com o Caderno Temático do FONAPER (nº. 1, p. 22), “O objetivo é apresentar o Transcendente, tal como é concebido nas mais variadas culturas e tradições religiosas”. Portanto, não podem ficar excluídos desse processo de aprendizagem, já que o Ensino Religioso faz parte da formação básica do cidadão.

O acesso ao conhecimento possibilita ao surgimento de uma nova sociedade. Portanto é importante conhecer as diversas concepções de mundo, presentes nas diferentes tradições religiosas, envolvendo os aspectos sociais, políticos, econômicos e ambientais de determinadas culturas.

Compreender a origem dos textos, ritos e símbolos sagrados na história das tradições religiosas possibilita por meio da informação, reflexão e vivência de valores morais, éticos e religiosos, o diálogo inter-religioso e, consequentemente, a superação de preconceitos, às pessoas. Assim, o Ensino Religioso, sem nenhum propósito doutrinante de uma determinada visão religiosa, se concretizará de maneira respeitosa e reverente para com o domínio de cada culto e de cada doutrina. Deve incentivar e desencadear nos educandos  um processo de conhecimento e vivência de sua própria religião, mas também um interesse por outras formas de conhecimento religioso. Portanto, esse componente curricular não poderá ficar de fora da Educação de Jovens e Adultos, já que se dará como um processo inclusivo no campo educacional brasileiro.

Segundo o Preâmbulo do Marco de Ação de Belém, ítem 7, p.6, 2010,"O papel da aprendizagem ao longo da vida é fundamental para  resolver questões globais e desafios educacionais. Aprendizagem ao longo da vida, “do berço ao túmulo”, é uma filosofia, um marco conceitual e um princípio organizador de todas as formas de educação, baseadas em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos.(VI CONFITEA)[1]

Sendo a religião um fenômeno humano abrangente, que está entranhado em todas as áreas da cultura, suas diversas facetas permitem perfeitamente a interdisciplinaridade no seu tratamento. Assim, ao mesmo tempo que o Ensino Religioso serve para ampliar o universo cultural do educando, também se torna muito mais consistente, enraizando-se nas múltiplas áreas do conhecimento, possibilitando à todos os educandos, desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental à Educação de Jovens e Adultos.

Na EJA o conhecimento das diversas concepções de mundo, presentes nas diferentes tradições religiosas, vem facilitar a compreensão dos aspectos sociais, políticos, econômicos e ambientais das diversas culturas.  O Preâmbulo do Marco de Ação de Belém, (ítem 5, p.17, 2010), afirma: "Aprendizagem e educação de adultos, são uma resposta vital e necessária aos desafios com os quais somos confrontados. [...]A aprendizagem e educação de adultos não apenas oferecem competências específicas, mas são também um fator essencial na ele vação da autoconfiança, da autoestima e de um sólido sentimento de identidade e de apoio mútuo". (VI CONFITEA).

       Gadotti, ao se reportar à “Pedagogia da Terra” destaca os grandes educadores tais como: Paulo Freire, Leonardo Boff, Sebastião Salgado, Boaventura de Sousa Santos, Milton Santos, Edgar Morin, responsáveis por uma educação com propostas de saberes/valores  interdependentes. Entre estes elencamos um que é:  "Educar os sentimentos.O ser humano é o único ser vivente que se  pergunta sobre o sentido da vida. Educar para sentir ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido em cada instante de nossa vida. Somos humanos porque sentimos e não apenas porque pensamos. Somos parte de um todo em construção.[2] (Gadotti).

    O pensamento do autor detalha fatos interessantes em relação à educação do ser humano o que nos possibilita comparar com o cuidado que temos que ter com a humanização da educação de forma afetiva e efetiva.

Nesta perspectiva nos reportamos na importância dos objetivos do ER, quando fala do sentido da vida, uma vez que se fundamenta nos princípios da cidadania e do entendimento do outro. É onde percebemos o valor do conhecimento que cada ser humano encontra em cada cultura, compreendendo que as pessoas se humanizam quando compreendem a si e ao outro.  (Idem p.11) "O universo não está lá fora. Está dentro de nós. Está muito próximo de nós. Um pequeno jardim, uma horta, um pedaço de terra, é um microcosmos de todo o mundo natural, Nele encontramos formas de vida, recursos de vida. Processos de vida. A partir dele podemos reconceitualizar o nosso currículo escolar . Ao construí-lo e ao cultivá-lo podemos aprender muitas coisas. As crianças o encaram como fonte de tantos mistérios! Ele nos ensina os valores da emocionalidade com a Terra: a vida, a morte, a sobrevivência, [...]"

Tudo isso reflete em nós, quando observamos que além da nossa cultura existem outras que nos dão lições de vida. Por isso é de fundamental importância essa construção na vida dos jovens e adultos, pois vem despertar interesse em nossos educandos a fim de que possa contribuir com a edificação de uma sociedade, mais fraterna e justa, respaldada nos bons princípios e na ética.

Daí  a  importância  do  desenvolvimento  das  habilidades  do  Ensino  Religioso  na formação da Educação de Jovens e Adultos, uma vez que só vem contribuir no processo de ensino e aprendizagem, e consequentemente somar para o crescimento pessoal, tirando lições de sabedoria e cidadania no seu dia a dia.





[1] Sexta Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos, ocorrida em Belém, em dezembro de 2009. O Brasil foi o primeiro país do Hemisfério Sul a sediar uma CONFITEA.


[2] Apostila: Educação de Jovens e Adultos: Um cenário possível para o Brasil. (Moacir Gadotti, p. 10)

Caderno Pedagógico: Uma Visão Atual do Ensino Religioso e sua Identidade.

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