*Maria Elizabeth Melo da Fonseca
A religiosidade popular é um tema de
estudo bastante discutido por especialistas da área, considerando-a enquanto
manifestação do sagrado e da memória coletiva. Não há correspondência entre
suas manifestações e o arcabouço doutrinário do catolicismo oficial,
manifestando-se através da participação intensa dos devotos e suas práticas
peculiares.
O catolicismo popular teve suas origens
em Portugal, pois seu território era geograficamente aberto, proporcionando
comunicação com outras etnias e, em especial, o cruzamento de diferentes
práticas religiosas de várias vertentes, entre as quais se destacam o
catolicismo, o islamismo e as práticas fetichistas africanas, sendo essas
permeadas de rituais de feitiçarias e superstições.
Em alguns países como França, Irlanda e
países nórdicos do Leste europeu, as festas de São João são celebradas entre católicos,
protestantes e ortodoxos. Em Portugal, porém, elas
são conhecidas como Festas dos Santos Populares e tem seus feriados municipais
de acordo com cada local. Nelas são comemorados os Santos Antônio em 13 de
junho, João em 24 de junho, Pedro em 29 de junho e outros. Antes essas
comemorações se chamavam juninas, derivadas do nascimento de São João, passando
a serem chamadas de juninas, pois são deflagradas no mês de junho.
A festa
junina no Brasil foi trazida de Portugal. Comemorava-se, nesse país, a chegada
do verão após um longo inverno de infertilidade da terra. Além de Portugal, outros países europeus de tradição romano-cristã deram
suas contribuições por meio de imigrantes que aqui chegaram por volta do século
XIX, porém, foram os portugueses que a introduziram por primeiro entre os
indígenas e africanos.
Festas Juninas: o lado
profano da devoção aos santos
As Festas Juninas, apesar de ser uma
comemoração aos Santos da Igreja Católica, são celebrações profanas que estão
historicamente relacionadas com as festas pagãs. Elas são comemoradas no
Brasil, principalmente na atual região Nordeste. Suas devoções estão
relacionadas ao Santo Antônio, São João e São Pedro.
Essas festas consideradas típicas se radicalizaram
na região do Nordeste, e por ser uma região árida que favoreceu a lavoura para
plantação e colheita do milho, desenvolveu-se uma riqueza culinária nordestina
com as comidas derivados do milho, tais como bolos, canjica, mungunzá, pamonha,
o milho assado e cozido. Além dessas comidas, temos, também, o arroz doce,
cocadas, pipoca e bebidas que fazem parte da tradição culinária local.
Geralmente os festejos juninos são
realizados no arraial, isto é, local ao ar livre comumente enfeitado com
bandeirinhas de papel coloridos, folhas de palmeiras e coqueiros. O arraial fica
cercado de barracas com as comidas típicas.
Por ser considerada uma “festa matuta”,
ou seja, advindas da comemoração da colheita do milho, da roça, as pessoas costumam
vestir-se de trajes tipicamente próprios para ocasião. As mulheres usam
vestidos de chita com saias rodadas e
muitos babados de rendas e fitas coloridas. Os homens usam calças com remendos
coloridos, camisas estampadas ou xadrez, gravatas ou lenço no pescoço e chapéus
de palha ou couro, apresentando-se, dessa forma, para as diversas danças.
Os festejos juninos concorrem também para dar impulso à
economia local, como ocorre na cidade de Caruaru - PE e de Campina Grande – PB,
através do turismo. Estas estão sempre em disputa pelo título de “Maior São
João do Mundo” ou “ Melhor São João do Mundo”. Enquanto isso, Caruaru está
consolidada no Guinness Book na categoria da maior Festa Country regional. Ambas
cidades oferecem o forró pé-de-serra para se dançar o tradicional rela-bucho, executado ao som de
instrumentos musicais característicos, a exemplo da zabumba, sanfona e o
triângulo.
Origem da fogueira
De origem européia,
a fogueira é tradição do conhecido São João brasileiro. As fogueiras juninas
fazem parte de uma antiga tradição pagã. Na Finlândia, a maioria da população
procura passar o São João ("Juhannus") no campo, em lugares afastados da cidade,
onde as fogueiras de São João são bastantes populares.
Uma lenda católica tenta explicar o costume de se acender
fogueiras no início do verão europeu. Conta-se que tal tradição provém de um
acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Para avisar a Maria sobre o
nascimento de João Batista e ter seu auxílio após o parto, Isabel teria de
acender uma fogueira sobre um monte. A tradição religiosa evidenciou a
profanação, porque ao redor da fogueira são praticadas danças e adivinhações
para as moças solteiras com pretensões de se casarem.
O uso de balões
Outra tradição é o uso do balão e fogos diversos. Muito embora seja tradição o uso do balão, hodiernamente
sua prática é proibida por Lei, tendo em
vista os perigos de incêndios e outros danos que podem vir a causarem. Tratava-se
de uma tradição a soltura do balão para indicar que a festa iria começar.
Geralmente se soltavam cinco a sete balões.
Entre estas tradições, os fogos de artifícios são
bastante consumidos por seus espetáculos pirotécnicos, constituindo parte
essencial desses festejos. Durante todo o mês de junho é comum, principalmente
entre as crianças, a utilização dos fogos de artifícios que enquadram os traques,
estrelinhas, cobrinhas, chuveiros, rojões, buscapés etc. A tradição popular
dita o uso desses adereços que servem para despertar “São João Batista”.
As danças típicas
As danças típicas tornam-se a melhor parte das
comemorações juninas. A quadrilha brasileira surgiu através do nome de uma
dança de salão francesa executada por quatro pares, a "quadrille", que
acontecia no início do século XIX . Era uma dança aristocrática. Hoje, com
passos renovados e um rítimo frenético, as quadrilhas formaram grupos para a
diversão ou apresentação em competições em várias cidades do Nordeste.
Além da quadrilha, outras danças são compartilhadas, tais
como o xaxado, baião e o forró pé-de serra. Sendo essa última imensamente
desfrutada e considerada como dança típica do sertão nordestino, prestigiada o ano inteiro.
Pesquisa de:
* Maria Elizabeth Melo da Fonseca -
Graduada em História pela UFPB. Especialista em História, Meio Ambiente e
Turismo pela UNIPE. Professora da rede pública de ensino do município de João
Pessoa e do Estado da Paraíba. Mestre do Programa de Pós-graduação em
Ciências das Religiões – UFPB.
* Pedagoga, Coordenadora do Ensino
Religioso e polo VIII da Secretaria Municipal de João Pessoa, Especialista e Mestre em
Ciências das Religiões pela UFPB. Professora de Ensino Religioso aposentada pelo Estado da Paraíba.
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