Série: O Sagrado
Princípios básicos para uma convivência pluralista
entre as religiões
(Faustino Teixeira - Juiz de Fora, Brasil)
1. O pluralismo religioso é um dom
de Deus e revela as riquezas singulares de sua sabedoria infinita e multiforme.
2. Embora expressem uma busca às
cegas de Deus, as religiões são acolhidas em si mesmas por Deus na dinâmica de
sua infinita abertura e misericórdia. Não é só que os sedentos buscam água, mas
sim que a água busca os sedentos.
3. As religiões são "fragmentos" em meio a
uma sinfonia cujo horizonte leva a marca do inacabamento. Não é possível que
uma tradição pretenda estar somente ela em posse da verdade.
4. A verdade que anima o caminhar das religiões não é
algo que possa ser apropriado como uma garantia assegurada, mas sim um mistério
sempre aberto, pelo qual as religiões devem deixar-se possuir.
5. As religiões têm limites e ambiguidades, mas estão igualmente assistidas pela maravilhosa liberdade do Espírito, que conhece caminhos misteriosos e inesperados.
5. As religiões têm limites e ambiguidades, mas estão igualmente assistidas pela maravilhosa liberdade do Espírito, que conhece caminhos misteriosos e inesperados.
6. Cada religião é portadora de um enigma irredutível
e irrevogável, não podendo ser entendida como um marco de espera que encontra
sua continuidade lógica e seu cumprimento pleno em outra tradição religiosa. A
riqueza das religiões não é algo que se encontra fora delas, como se seu valor
consistisse em sua capacidade de se abrir positivamente àquilo que ignoram.
7. Desconhecer esse enigma ou mistério que envolve
cada tradição religiosa é não honrar sua especificidade única e desprezar a
riqueza insuperável da alteridade.
8. Sustentar uma assimetria básica entre as religiões
– a chamada assimetria de princípio – vai contra a dinâmica misteriosa dos dons
de um Deus que abraça a diversidade.
9. A experiência de fé em um Deus criador, presente e
atuante em todos os povos do mundo, implicam em reconhecer sua presença viva e
acolhedora entre as diversas tradições religiosas.
10. Deus atua na história por meio de mediações
distintas e diversificadas. Não há razão plausível para concentrar a mediação fundamental
da presença salvífica de Deus em uma única instância ou "porta", mas
devemos reconhecer outras formas dessa mediação, que podem ser uma pessoa, mas
também as Escrituras, um acontecimento histórico, um ensinamento ou uma práxis.
11. Aceitar o pluralismo religioso como um valor em si
mesmo – o chamado pluralismo de princípio – é uma condição essencial para o
verdadeiro diálogo inter-religioso. Não é possível dialogar verdadeiramente com
o outro desconhecendo a riqueza e o valor irredutível de sua dignidade
religiosa.
12. Limitar-se a uma única tradição religiosa,
excluindo-se da provocação criativa do diálogo com a alteridade, leva à perda
das riquezas preciosas que a dinâmica reveladora de Deus irradia, que atua na
história sempre e em todo o lugar.
13. O reconhecimento da presença do Mistério Maior nos
outros confere uma nova perspectiva à identidade, possibilitando a abertura a
novas e enriquecedoras dimensões da própria fé.
14. Longe de debilitar a fé, o diálogo verdadeiro abre
horizontes novos e fundamentais para a sua afirmação em um mundo plural.
15. Acolher o pluralismo como um valor em si mesmo não
só implica no diálogo entre as religiões, mas também na abertura e na
complementaridade a outras formas de opções espirituais, seja religiosas, arreligiosas
ou pós-religiosas.
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